sábado, 21 de junho de 2014

(Wii) Madworld: violento e cheio de estilo, o primeiro jogo da Platinum Games quase passou despercebido; leia análise



Quando o assunto é o estúdio japonês Platinum Games, formado em 2006 por ex-integrantes da Clover (de Okami e Viewtiful Joe), é natural associá-lo às suas criações badaladas, como Bayonetta, Vanquish e Metal Gear Rising: Revengeance. Entretanto, o beat 'em up 3D Madworld não ficou tão conhecido. Ele foi o primeiro trabalho do então promissor estúdio, e chegou com exclusividade ao Nintendo Wii, em março de 2009.

Na época, o console era “bombardeado” com coletâneas de mini games infantis e ports mal feitos do moribundo PlayStation 2. Tirando as franquias da própria Nintendo, poucos games exclusivos de Wii eram de qualidade, a exemplo de No More Heroes e um ou outro “gato pingado”.

Felizmente, Madworld veio para o time dos bons jogos do console, deixando claro que a Platinum Games não havia chegado para brincadeiras. Logo em seu jogo de estreia, ela mostrou às outras thirdies que com esforço, competência e criatividade, dava para fazer bom uso do hardware limitado do Wii, e ao mesmo tempo, aproveitar de forma inteligente os controles do aparelho.


Preto e branco de encher os olhos

Assim que Madworld começa, os jogadores dão de cara com algo fora do comum: o game é quase todo em preto e branco. Esse estilo artístico foi adotado para dar ao jogo um jeitão de história em quadrinhos – alguém aí conhece Sin City?


As outras cores usadas são vermelho (para o sangue) e amarelo - visto em algumas letras dos menus, e nas onomatopeias “Kraash!”, “Bam!”, “Splaat!”, “Kunch!” entre outras. De maneira nenhuma a limitação de cores deixa o game feio, pelo contrário, Madworld é um dos títulos mais belos de Wii. Os cenários são incrivelmente vivos e detalhados e os personagens (construídos com o bom e velho cel shading) não decepcionam. De vez em quando o game sofre alguns slowdowns, mas que não comprometem a jogabilidade. 



O extremo da violência

O que dizer de um game que acontece numa cidade isolada, em que o objetivo é promover a carnificina em um “reality show da morte”? Deu para perceber que Madworld não foi feito para crianças, e isso fica mais evidente quando o jogador assume o controle de Jack, um brucutu com uma serra elétrica embutida no braço direito.

Na trama, Jack é um agente infiltrado no DeathWatch (o reality show). A missão dele é acabar, de uma vez por todas, com o programa sangrento. Para isso, o agente conta com uma estratégia "simples": matar todos os concorrentes até chegar ao responsável pela carnificina - prático, não?  

A violência exagerada é a marca do game. Durante a jogatina dá para fazer uma série de atrocidades com os inimigos, como serrá-los ao meio, arrancar a cabeça ou o coração dos infelizes, quebrar a coluna deles, entre outros absurdos. 

Além disso, é possível interagir com elementos do cenário. Uma placa de sinalização, por exemplo, vira um “espeto gigante” nas mãos de Jack, que por sua vez pode furar os adversários no pescoço - ou pior, nas partes íntimas! 

Como se isso não bastasse, o pobre coitado ainda pode ser jogado num latão de lixo, na lateral de um trem em movimento, dentro de uma privada, e por aí vai. Todas essas ações geram pontos no placar do DeathWatch, que exige certos valores para que se prossiga na aventura.

No vídeo abaixo, são mostradas algumas das “brincadeiras” de Jack com os inimigos:




A violência de Madworld deu o que falar. Em agosto de 2009, o site Nintendo Everything  noticiou que a Sega (publisher do game) estava proibida de lançar o jogo na Alemanha.

Já em uma entrevista ao portal inglês Mail Online, em 2008, o diretor do Mediawatch-uk, John Beyer, também não apoiava o futuro lançamento do game. “Eu espero que a British Board of Film Classification (BBFC) decida não garantir uma classificação ao jogo. Sendo assim o jogo não poderá ser vendido na Inglaterra”, “Nós devemos ter certeza de que a civilização moderna possui valores maiores do que matar pessoas”, completa.

É importante citar que a violência de Madworld, por mais grotesca que seja, apela para um lado mais cômico da coisa, e não para o sinistro. Os exageros ultraviolentos fazem parte de um humor caricato adotado pela Platinum Games, semelhante ao que é visto em inúmeras HQs ou obras do cinema, por exemplo. Mas isso é um aspecto que depende do ponto de vista de cada jogador, ou seja, o conteúdo do game pode ser pesado para alguns, e engraçado para outros.


Novas mecânicas para um velho gênero

Madworld é um típico beat 'em up, estilo que a muitos agradou nos tempos áureos de Final Fight e Streets of Rage. A premissa é a mesma: ande, bata, derrote um chefão no final da fase e prossiga.

A novidade fica por conta dos controles, que usam os sensores de movimento de forma intuitiva, porém, sem abusos. Segurando o botão B, por exemplo, Jack liga a serra elétrica por alguns segundos, e para usá-la, basta fazer movimentos verticais ou horizontais com o Wii Remote. Ao agarrar um inimigo (segurando A), é possível dar cabeçadas no indivíduo (chacoalhando o Nunchuk) e depois, como todo bom beat 'em up, jogá-lo para longe (movimentando o Wii Remote).


A grande sacada da Platinum Games foi de usar gestos como ações complementares, e não como mecânica principal. Dessa forma, dá para jogar Madworld do início ao fim sem incômodos - gerados por chacoalhadas desnecessárias nos controles.  


A campanha do game é relativamente curta, durando cerca de seis a oito horas. Nela, a Platinum Games poderia ter incluído um modo cooperativo online, ou local para duas pessoas – o que acrescentaria mais diversão ao jogo, já que se trata de um beat 'em up.


As fases de Madworld apresentam um pouco de repetição, mas ela é amenizada por alguns fatores, como os desafios Bloodbath, que são mini games de matança com temáticas criativas e variadas. Em um deles, por exemplo, o objetivo é bater nos inimigos com um taco de beisebol, lançando-os em um alvo gigante que lembra uma tabela de jogo de dardos. 

Outro detalhe bacana (que também “quebra o gelo” da repetição) são as batalhas contra os chefes. Cada confronto exige uma estratégia diferente, e todos eles são desafiadores e empolgantes. Já as fases em que Jack pilota uma moto até tentam variar. O problema é que elas são monótonas, consistindo apenas em lutas entre o anti-herói e inimigos que surgem, exaustivamente, em quadriciclos


A trilha sonora é excelente. Feitas com exclusividade para o game, quase todas as músicas são raps pesados e envolventes, que combinam perfeitamente com a ambientação urbana do jogo. A dublagem é um tanto canastrona, mas levando em conta a estética exagerada de Madworld, ela cai bem.   


Outro destaque sonoro é a dupla de apresentadores do DeathWatch. Eles narram, de forma hilária, todas as bizarrices que acontecem durante a jogatina. O curioso é que, mesmo tratando-se de um "jogo da morte", os narradores tentam passar a impressão de que o DeathWach é um legítimo programa de entretenimento – ideia escrota, mas criativa. 


Remando contra a maré

Madworld foi um sucesso de crítica, é verdade, mas não conseguiu repetir o feito junto ao público. Segundo dados do NPD Group, nos EUA o game vendeu apenas 66 mil unidades no mês de lançamento. Na época, alguns fóruns da internet culparam o Wii pelas baixas vendas do game, alegando que o console não tinha o público adequado para consumir jogos adultos.

Entretanto, é pouco provável que Madworld vendesse bem, mesmo se fosse multiplataforma. Trata-se de um jogo alternativo, que foge completamente dos padrões comerciais da indústria. É uma experiência única, original e ousada, como raramente se vê no mercado convencional de games.

Em linhas gerais, Madworld é um dos melhores jogos de Wii. A parte técnica é impecável e a violência exagerada dá ao game uma personalidade marcante. Mesmo com uma campanha curta e um pouco de repetição, Madworld é divertido o bastante para prender o jogador do início ao fim.    


Por Sergio Grecco.

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